Thursday 18 February 2010

Confusões


A falta de conhecimento e de cultura democrática neste País chega a ser deprimente. A qualquer momento estamos a atirar com um "isto está pior do que antigamente e já não se pode dizer nada e querem calar a comunicação social". Meus amigos, qual comunicação social? Vamos ser honestos, a comunicação social, livre e independente, em Portugal (falo só do que conheço) não existe. Gosto de os ver no Parlamento a discutir a liberdade de imprensa e a ouvirem o Zé Manel Fernandes, a Manela e o Mário Crespo. E apenas digo, com o devido respeito, que não é aí que se vê se a imprensa é ou não livre. Não podemos falar de liberdade de imprensa num País que permite que os jornalistas sejam explorados e que manda embora quem sabe e tem memória e contrata estagiários bem intencionados mas impreparados, sem memória, sem cultura, sem conhecimento. Não peçam liberdade de imprensa se todos os dias há menos jornalistas a escrever. Estarei a ser exagerada? Talvez, mas ganhar o salário mínimo ao fim de 10 anos de trabalho dedicado (tantas, tantas horas, tantas madrugadas) fazem com que as pessoas não se esforcem, percam a capacidade de se interrogar, de continuar a escrever. A definição da agenda - quem decide afinal que eventos cobrir - a orientação política dos media, que em Portugal não é assumida e as condições de trabalho das pessoas não podem ser assuntos arredados da discussão da liberdade de imprensa. Muitas vezes quem está a desempenhar funções de jornalista nem sabe, nem se questiona porque é que faz um trabalho e não outro qualquer. Depois, no afã de discutir a liberdade de imprensa esquecemo-nos que existem empresas de comunicação social. Que é suposto darem lucro. Permitimos que os jornais locais, por exemplo, vivam num precário equilíbrio a que não são alheias as "publicidades dos municípios". Pernicioso, para não dizer pior. Os jornalistas são o pior exemplo - porque poucas vezes denunciam o que se passa dentro de "casa". Não ver que os jornais e as televisões e todos os outros são empresas e têm de dar lucro é um erro. Seria tudo mais transparente se não nos esquecessemos disso. Não estou a discutir sobre as pressões feitas (ou não) sobre os supra-citados. Nem me custa a acreditar que tenham existido, tendo em conta o lodo em que se move a política nacional. Mas a liberdade de imprensa (ou a falta dela) não é na discutível crónica do Mário Crespo. Aliás, lembre-se, uma crónica é um artigo de opinião, não é informação. O PM não tem, como é óbvio, estatura moral para lidar com imprensa livre e esclarecida. Apenas lamento que se esteja a discutir pelo lado errado. Quanto à tentativa de controlo dos media recordo que em Portugal temos duas agências noticiosa. Uma é uma empresa do Estado, cujos critérios editoriais são, no mínimo, discutíveis. A outra é da Igreja. Sócrates tinha um plano para controlar a comunicação social? Nem sei se isso seria necessário. Ainda assim, por muito menos, já se demitiram ou destituiram governos. É um cenário efabulado. Para se demitir o PM teria de ter vergonha na cara (ou um plano para voltar ao poder, ou um bom tacho fora do País). Para que fosse destituído, o Cavaco teria de ter espinha dorsal. Mas também ele tem a sua própria agenda - a reeleição. Por isso, continua a nunca falar quando é preciso e a tentar passar por entre os pingos da chuva. Só o próprio é que não vê que está molhado até aos ossos.

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